sexta-feira, 19 de julho de 2013

Motocicleta: a grande vilã dos acidentes de trânsito

Atualmente os acidentes de trânsito constituem um sério problema de saúde pública em virtude de serem acompanhados por elevado índice de mortalidade. Esse tipo de acidente encontra-se entre as causas externas de maior incidência, com elevado percentual de interna­ção, além de altos custos hospitalares, perdas materiais, despesas previdenciárias e grande sofrimento para as víti­mas e seus familiares.

A cada ano, mais de 40 mil pessoas são mortas e cerca de 400 mil são feridas ou tornam-se inválidas em ocorrência de trânsito. No Brasil, os índices de fatalidade na circulação viária constituem uma das principais cau­sas de morte prematura da população economicamente ativa.

A preocupação maior é com quem anda sobre duas rodas. Os acidentes envolvendo motocicletas são crescentes em todas as regiões, em decorrência do aumento da frota e das facilidades no financiamento destes veículos.

Segundo o portal Mobilize Brasil, nos últimos seis anos, o número de motos aumentou 127,8% em Cuiabá. E em nível de Brasil, os números são assustadores, mais de 15 milhões de motocicletas, conforme apontam as estatísticas do DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito).

Atrelados ao crescimento desenfreado da frota estão as atitudes incompatíveis dos condutores sob a perspectiva de construção de um trânsito seguro. Trafegar em ziguezague ou em excesso de velocidade, transitar sem roupas apropriadas, sem o capacete de segurança, mudar repentinamente de faixa de trânsito, efetuar manobras arriscadas ou ultrapassar veículos sem os cuidados indispensáveis, contribuem para formação de um conjunto de irregularidades e desafios ao perigo, levando o Brasil a ser classificado com a 2ª maior taxa de mortalidade em acidentes com motos no mundo, segundo o Mapa da Violência 2012, feito pelo Instituto Sangari.

São 7,1 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes. Nos últimos 15 anos a taxa de mortalidade sobre duas rodas aumentou 846,5%. E na nossa Capital, a realidade também não é diferente. Segundo o Pronto-Socorro Municipal, as motocicletas estão em 1º lugar nos atendimentos em razão da violência no trânsito. Apenas no 1º semestre deste ano, já foram registrados 338 acidentes envolvendo motocicletas, conforme dados do CIOSP.

Diante desta triste realidade, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes Urbanos, sabedora de suas responsabilidades institucionais e conscientes da importância de melhorar a segurança dos motociclistas, em parceria com os órgãos integrantes do Comitê Municipal de Mobilização pela Saúde, Segurança e Paz no Trânsito de Cuiabá, realizará no dia 27 do presente mês, na Praça Cultural do CPA II, o “Circuito Educativo Motociclista Vivo”, com o objetivo de desenvolver uma série de ações de conscientização.

O problema do trânsito não está próximo do fim, mas depende da soma de esforços de cada um de nós. E nosso papel, enquanto, poder público é mobilizar a sociedade, através de ações educativas e culturais como estas, para promover a preservação e valorização da vida. Afinal, educar para o trânsito, é educar para a vida!

Thiago França é Secretário-Adjunto de Trânsito e Transportes Urbanos de Cuiabá

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Bicicletada Cuiabá de Julho (Bicicletada Julina)

Neste dia 26 de julho, última sexta-feira do mês, vista seu traje caipira e venha pedalar pelas ruas de Cuiabá e reivindicar ciclovias já e infraestrutura pata todos os ciclistas. A concentração será a partir das 18h30 na Praça 8 de abril e saída da Bicicletada às 20h00. Haverá também campanha de coleta de assinaturas para o projeto de Lei: http://www.peticaopublica.com.br/peticaoassinar.aspx?pi=LB2011. Já assinou? Nos ajude então na divulgação da petição. Boa bicicletada, Cuiabá!





terça-feira, 16 de julho de 2013

A bicicleta como modo de transporte

Ciclovias

As ciclovias exercem um grande fascínio sobre a população em geral, em especial nos ciclistas leigos. A crença que só a segregação do ciclista em relação ao trânsito proporciona segurança no pedalar é muito enraizada. A realidade apresentada por pesquisas mostra que não é bem assim. Não resta dúvidas que ciclovias têm qualidades, mas não existe milagre e elas também apresentam seus pontos fracos. Talvez o ponto mais forte do conceito ciclovia esteja no imaginário das pessoas.
 
Ciclovia é uma dentre várias opções técnicas de segurança de trânsito para melhoria da vida do ciclista. Ela pode ou não ser a opção mais segura ou apropriada. Em várias situações é mais apropriado ter faixas para ciclistas, sinalização, trânsito partilhado ou mesmo não fazer absolutamente nada. Em cidades de pequeno porte ou no interior de bairros onde o trânsito é de baixa velocidade e tranquilo, ciclovias provavelmente são totalmente desnecessárias.
 
A matemática é simples: a quase totalidade dos acidentes envolvendo ciclistas acontece em cruzamentos, portanto resolvendo estes pontos, o índice de acidentes envolvendo ciclistas praticamente zera. E aí vem o detalhe: não existe ciclovia sem algum tipo de cruzamento.
 
Mas há outros fatores a ponderar antes de optar pela ciclovia. Para criar uma via apropriada é necessário tirar espaço de alguém, seja dos veículos motorizados ou até mesmo dos pedestres, o que faz com que processo de implementação seja realizado no mínimo com alguma espécie de atrito.
 
Ciclovia é sempre a opção mais complicada de ser implementada e a mais cara. Os custos de sua manutenção também devem ser levados em consideração ou então o dinheiro investido será jogado no lixo. 
 
Ciclovias são interessantes?
 
A demanda reprimida de ciclistas potenciais é muito grande e por isso é muito fácil criar um fato político com o anúncio de ciclovias. Infelizmente a mesma população que pede as ciclovias não se pergunta porque elas nunca saem do papel. 
 

A verdade é que a opção pela ciclovia pode simplesmente tornar a questão da bicicleta inviável.
Ciclovias são interessantes? Muito interessantes. Ninguém põe em dúvida o impacto que elas criam na cidade e na população em geral e, este é seu ponto mais forte. A imagem inicial é muito positiva, mas se o projeto for mal pensado e realizado, o resultado final é muito ruim não só para a bicicleta, mas também para outros não-motorizados. 
 
A segurança de ciclistas
 
Fatos e considerações sobre a segurança de ciclistas:
 
1. Todo ciclista tende a manter a inércia da bicicleta, ou seja, a não diminuir muito a velocidade ou parar.
 
2. Praticamente todos os acidentes (95% - UNESCO) envolvendo ciclistas acontecem em cruzamentos.
 
3. Mais da metade das mortes de ciclistas é resultado de colisão frontal.
 
4. Mais de 50% dos acidentes envolvendo bicicletas têm como responsável o próprio ciclista.
 
5. 90% do total dos acidentes de trânsito são causados por falha humana.
 
6. Calcula-se que algo entre 10 a 15% das mortes de ciclistas no Brasil são causadas por falha mecânica da bicicleta.
 
7. O índice de ciclistas que sofrem colisões por trás é muito baixo e, percentualmente, as lesões são menores que em colisões frontais ou laterais.
 
8. Boa parte dos acidentes é causada porque o motorista não conseguiu visualizar o ciclista.
 
9. Não há melhoria de segurança se o ciclista não tiver uma condução segura da bicicleta. O ciclista tem que usar e conduzir a bicicleta como uma bicicleta e não como um veículo motorizado. Educação é prioridade, fundamental para evitar acidentes.
 
10. É condição básica para a segurança do ciclista que o sistema de trânsito esteja integrado com a realidade do veículo bicicleta, assim como para o convívio com o cidadão ciclista e outros não-motorizados.
 
11. A forma técnica mais eficiente para diminuir o alto índice de acidentes envolvendo ciclistas em esquinas, é através de sinalização vertical, horizontal e semafórica, e de pequenas canalizações para bicicletas, quando necessárias.
 
12. Há uma generalizada distorção em nossa sociedade sobre o que deve ser segurança no trânsito para ciclistas. São feitas comparações inocentes com países e cidades onde a bicicleta faz parte do trânsito há muitas décadas, ou até mais de um século. 
 
A segurança de ciclovias
 
Fatos e considerações sobre a segurança de ciclovias:
 
1. A ciclovia evita que o ciclista seja espremido pelo motorista contra o meio-fio ou qualquer outro obstáculo. Evita também que ele sofra colisão por trás. (Mas, vale a pena lembrar que há o artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro que obriga qualquer condutor de veículo motorizado a manter 1,5 metro de distância do ciclista em ultrapassagens.)
 
2. Ciclovia exerce forte imagem como incremento de segurança para o ciclista.
 
3. É impossível construir uma ciclovia sem cruzamentos e a maioria dos acidentes envolvendo ciclistas ocorrem em cruzamentos.
 
4. Colisão frontal entre ciclistas é acidente relativamente comum em ciclovias de dupla mão de direção.
 
5. Mesmo em países europeus, há problemas de invasões de veículos motorizados em ciclovias, em especial motocicletas e ciclomotores.
 
6. Por causa da falta de calçadas é comum ver pedestres usando ciclovias como seu espaço, o que gera conflito e acidentes.
 
7. É comum o atropelamento do pedestre em ciclovias. Ciclovias não têm a característica "hostil" de uma rua ou avenida, além do mais a bicicleta é silenciosa e difícil de ser percebida. Já a via para veículos motorizados, tende a ser percebida e respeitada pelo pedestre. Há várias razões para tanto, uma delas é porque os veículos são barulhentos e podem ser ouvidos de longe.
 
8. "Sem ciclovia não há segurança para o ciclista", é discurso comum que não raro acaba inviabilizando a implementação de melhorias mais simples, baratas e eficientes para a segurança e conforto do ciclista. 
 
Sobre a introdução da ciclovia
 
Considerações sobre a introdução da ciclovia
 
 
1. É crucial pensar qualquer obra viária voltada para o ciclista de forma integrada com o meio ambiente, os locais de interesse e outros modos de transporte, motorizados ou não.
 
2. A segurança no trânsito para ciclistas deve estar fundamentada em um sistema cicloviário no qual sejam consideradas todas as opções possíveis e pertinentes às peculiaridades locais - trânsito compartilhado, faixas para ciclistas, ciclovias, ou até simplesmente não fazer nada.
 
3. Dependendo do contexto, ciclovia pode ou não ser a melhor opção. O que importa mesmo é que o ciclista sinta segurança sem perder o prazer de pedalar.
 
4. Ciclovia deve ser alimentada de ciclistas, senão é gasto inútil. O interessante é que o ciclista consiga acessar a ciclovia pedalando por caminhos seguros.
 
5. Toda ciclovia tem cruzamentos, portanto necessita de semáforos. O problema de custo dos semáforos, não é o único ponto crítico. O sistema semafórico integrado à ciclovia só funciona se houver uma correção geral de tempos em todo o sistema semafórico já existente. É uma decisão política de peso.
 
6. Com o ciclista integrado ao tráfego e longe de vias saturadas ou de trânsito rápido, o semáforo vale para todos e os custos gerais caem.
 
7. Mesmo sendo possível a melhor condição de implantação da ciclovia, ainda há o problema que ela segrega o ciclista do trafego de veículos motorizados, o que não raro, significa distanciá-lo do olhar de motoristas e motociclistas, o que acaba se transformando em mais um elemento de risco de acidentes, principalmente em esquinas.
 
8. O perfil irregular do traçado urbano e a topografia de nossas cidades dificultam a implantação de ciclovias.
 
9. Normalmente, onde há saturação de veículos motorizados - vias expressas, avenidas e outras vias preferenciais - é onde seriam os melhores trajetos para ciclistas. O problema técnico de implantar ciclovias nestas vias está na diferença de velocidade entre o ciclista e motoristas nas esquinas, acessos e cruzamentos. Há ainda a questão ambiental de baixa qualidade comum a locais onde há excesso de veículos motorizados.
 
10. Criada uma ciclovia, onde colocar as vagas de estacionamento que desaparecerão com o espaço ganho pela ciclovia?
 
11. Ciclovia de canteiro central em avenidas é questionável em termos de segurança para o ciclista. Por um lado, o faz cruzar uma via de trânsito intenso para alcançar sua segurança, o que constitui um contra-senso. Estas travessias podem ser feitas junto às faixas de pedestres, o que pode criar problemas tanto para pedestres como para o próprio ciclista. Mas, tem a vantagem de permitir fluxo mais rápido para o ciclista pela diminuição de interferências, como acessos de garagens e esquinas. Em compensação há o problema causado pelas convergências à esquerda e ou retorno dos automóveis, além do possível fechamento do fluxo da ciclovia por veículos que não conseguiram cruzar a avenida.
 
12. Numa ciclovia de canteiro central de avenida, o ciclista irá pedalar na pior condição de salubridade, já que está no centro de intensa poluição sonora e do ar.
 
13. Ciclovias são recomendáveis em estradas que estejam em área urbana.
 
14. A experiência internacional mostra que a ciclovia criada gera demanda. Mas a mesma experiência demonstra que a ciclovia por si só não se sustenta. Ela necessita de um sistema de alimentação de ciclistas, seu uso deve ser constantemente incentivado, suas falhas corrigidas, suas qualidades mantidas e periodicamente revistas. Do contrário sua implementação será gasto inútil e dinheiro jogado fora. Ciclovia não faz milagres, é simplesmente uma das opções técnicas disponíveis. 
 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um anarquismo organizado

Os especialistas em rede chamam o fenômeno ocorrido no Brasil nas últimas semanas de swarming. Em inglês, significa enxame.  É uma denominação para aglomerações advindas de uma convocação não centralizada. O primeiro grande swarming da nossa época foi a manifestação em Madrid logo após os atentados em 2004, quando os jovens se reuniram rapidamente através de uma comunicação frenética de SMS.
Os swarmings são fenômenos típicos de uma sociedade hiperconectada, que se auto-organiza em rede e não depende de uma convocação única. Elas simplesmente acontecem, por vezes inexplicavelmente, ora motivadas por algum fator político ou social. São exemplos de swarming a manifestação na Praça Tahir (e outras da primavera Árabe), a manifestação no Zuccottti Park, que resultou no movimento Occupy e os recentes protestos na Turquia.
Mas, segundo Augusto de Franco, criador da escola de redes, é bem provável que as manifestações dos dias 17 e 18 de junho no Brasil tenham sido o maior swarming já presenciado no Planeta. Isso porque, segundo o especialista, é ingenuidade acreditar que os milhões de brasileiros que saíram às ruas nas centenas de cidades durante esses dois dias foram convocados pelo Movimento Passe Livre (MPL).
“O que ocorreu foi a expressão molecular de um incômodo, de uma insatisfação difusa. As pessoas sentiram que há algo muito errado com o sistema, embora não saibam explicar o que é exatamente o sistema”, diz Franco
Manifestações épicas sugerem mudanças profundas. Só a história dirá, mas talvez o que tenhamos presenciado na semana passada seja mais um sintoma de uma nova forma de organização social, algo que já se faz sentir no mundo todo. O próprio MPL é um apontamento nesse sentido: um movimento que se diz apartidário, sem liderança definida e capaz de abalar estruturas organizadas muito bem definidas nas cidades em que atua.
Enquanto, de um lado, temos uma multidão que se reúne com pautas difusas e um clamor comum de mudança, do outro temos uma máquina pública viciada nos seus próprios processos. Não faltaram petições, abaixo assinados e campanhas que apontaram o desejo do brasileiro de se inserir e participar mais dos rumos políticos da nação. Nada disso foi respeitado ou levado em conta. Ou seja, enquanto a sociedade se instrumentaliza para pressionar e participar sem precisar ir às ruas fazer revolução, os donos do poder dão sinais claros de ancestralidade ao se fechar dentro de uma máquina viciada, cara e ineficiente.
A tendência é caminharmos para ser uma comunidade sem fronteiras, sem liderança e sem controle midiático. Uma espécie de anarquismo organizado. Em entrevista ao jornal O Globo, Pierre Levy, filósofo da informação que estuda a interação entre sociedade e internet, diz que não é preciso ter medo desse novo cenário. “O fundamental é mantermos a liberdade de expressão; com ela não é preciso ter essa paranoia com o fascismo”, diz.
Ainda é cedo para saber quais resultados concretos esses swarmings trarão para a sociedade, mas no momento em que o padrão de manifestação ao redor do planeta parece seguir esse mesmo modelo, uma das apostas é que a mudança, quando chegar, vai ser global. Resta saber qual país vai descobrir a receita e capitanear esse movimento oceânico que já começa a transbordar as barragens das instituições tradicionais.
Thiago Foresti