Os especialistas em rede chamam o fenômeno ocorrido no Brasil nas últimas semanas de swarming. Em inglês, significa enxame. É uma denominação para aglomerações advindas de uma convocação não centralizada. O primeiro grande swarming da nossa época foi a manifestação em Madrid logo após os atentados em 2004, quando os jovens se reuniram rapidamente através de uma comunicação frenética de SMS.
Os swarmings são fenômenos típicos de uma sociedade hiperconectada, que se auto-organiza em rede e não depende de uma convocação única. Elas simplesmente acontecem, por vezes inexplicavelmente, ora motivadas por algum fator político ou social. São exemplos de swarming a manifestação na Praça Tahir (e outras da primavera Árabe), a manifestação no Zuccottti Park, que resultou no movimento Occupy e os recentes protestos na Turquia.
Mas, segundo Augusto de Franco, criador da escola de redes, é bem provável que as manifestações dos dias 17 e 18 de junho no Brasil tenham sido o maior swarming já presenciado no Planeta. Isso porque, segundo o especialista, é ingenuidade acreditar que os milhões de brasileiros que saíram às ruas nas centenas de cidades durante esses dois dias foram convocados pelo Movimento Passe Livre (MPL).
“O que ocorreu foi a expressão molecular de um incômodo, de uma insatisfação difusa. As pessoas sentiram que há algo muito errado com o sistema, embora não saibam explicar o que é exatamente o sistema”, diz Franco
Manifestações épicas sugerem mudanças profundas. Só a história dirá, mas talvez o que tenhamos presenciado na semana passada seja mais um sintoma de uma nova forma de organização social, algo que já se faz sentir no mundo todo. O próprio MPL é um apontamento nesse sentido: um movimento que se diz apartidário, sem liderança definida e capaz de abalar estruturas organizadas muito bem definidas nas cidades em que atua.
Enquanto, de um lado, temos uma multidão que se reúne com pautas difusas e um clamor comum de mudança, do outro temos uma máquina pública viciada nos seus próprios processos. Não faltaram petições, abaixo assinados e campanhas que apontaram o desejo do brasileiro de se inserir e participar mais dos rumos políticos da nação. Nada disso foi respeitado ou levado em conta. Ou seja, enquanto a sociedade se instrumentaliza para pressionar e participar sem precisar ir às ruas fazer revolução, os donos do poder dão sinais claros de ancestralidade ao se fechar dentro de uma máquina viciada, cara e ineficiente.
A tendência é caminharmos para ser uma comunidade sem fronteiras, sem liderança e sem controle midiático. Uma espécie de anarquismo organizado. Em entrevista ao jornal O Globo, Pierre Levy, filósofo da informação que estuda a interação entre sociedade e internet, diz que não é preciso ter medo desse novo cenário. “O fundamental é mantermos a liberdade de expressão; com ela não é preciso ter essa paranoia com o fascismo”, diz.
Ainda é cedo para saber quais resultados concretos esses swarmings trarão para a sociedade, mas no momento em que o padrão de manifestação ao redor do planeta parece seguir esse mesmo modelo, uma das apostas é que a mudança, quando chegar, vai ser global. Resta saber qual país vai descobrir a receita e capitanear esse movimento oceânico que já começa a transbordar as barragens das instituições tradicionais.
Thiago Foresti
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