Neste espaço vamos discutir nossa cidade, Cuiabá, seu cotidiano, trânsito/transporte, os problemas e suas possíveis soluções. Como inserir a Bicicleta na Política de Mobilidade Urbana? Como fazer uma cidade melhor?
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Fadiga no trânsito - PERIGO
que caminhoneiros e motoristas de carros menores correm
nas rodovias.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
O passeio, a calçada e o trânsito em Cuiabá
Há motos que trafegam em alta velocidade pela calçada, em meio a pedestres acuados. Lojas de pequeno e grande porte reservando vagas na calçada com os dizeres "exclusivo para clientes em compras". Máquinas vorazes, estacionando, parando, enfim, se apossando de um espaço que não lhe pertence. Melhor dizendo, homens e mulheres vorazes, que com seu comportamento individualista e anti social tornam cada vez mais inseguro a forma de deslocamento mais natural do ser humano: ir e vir a pé.
Se na calçada não há espaço para o pedestre imagine em meio ao trânsito frenético de carros, motos, ônibus e caminhões na pista. Curiosamente o CTB não prevê infração por estacionamento sobre calçada. Em todo Artigo 181, que trata de infrações de estacionamento, não se faz nenhuma menção ao estacionamento "na" ou "sobre a calçada". Já ouvi pessoas que afirmaram categoricamente que " se deixar meio metro pro pedestre passar já tá bom!". Um exemplo disso é o trecho da Av. Ten. Cel. Duarte próximo ao Morro da Luz, no centro de Cuiabá e em outros pontos da cidade em que pedestres tem que disputar espaço com ônibus na pista para desviar dos carros estacionados no passeio, na iminência de acontecer um atropelamento fatal. (confira as imagens no link http://transitocuiaba.blogspot.com/2009/06/estacionamento-irregular.html) Então pode estacionar na calçada se deixar meio metro pro pedestre? Que absurdo! À primeira vista temos a impressão que "passeio" e "calçada" são espécies totalmente diversas, e que o estacionamento sobre calçadas não constitue infração, mas o que o Código de trânsito diz sobre isso?
No Capítulo XV das infrações da Lei 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro encontramos a seguinte redação :
"Art.181 -Estacionar o veículo:
(...)
VIII - no passeio ou sobre faixa destinada a pedestre, sobre ciclovia ou ciclofaixa, bem como ilhas, refúgios, ao lado ou sobre canteiros centrais, divisores de pista de rolamento, marcas de canalização, gramados ou jardim público:
Num exame mais apurado do CTB no anexo 1 - Dos Conceitos e Definições temos as seguintes definições de VIA, CALÇADA e PASSEIO que serão úteis a esclarecermos essa dúvida.
VIA - Superfície por onde transitam veículos , pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central.
CALÇADA - Parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada á circulação circulação de veículos, reservada ao trânsito de pedestres, e , quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins.
PASSEIO - Parte da calçada ( ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou elemento físico separador) livre de interferências, destinada á circulação exclusiva de pedestres, e, excepcionalmente, de ciclistas.
Numa leitura mais detalhada da definição de PASSEIO fica evidente sua existência na calçada, e onde esta não exista (como no caso das rodovias) na pista de rolamento.
Em combinação com a definição de calçada fica evidente que qualquer veículo (carro, moto, caminhão, ônibus, etc) é um invasor daquele espaço reservado ao trânsito de pedestres, mesmo que se trate de uma calçada larga. Há de ficar esclarecido que no passeio não há um sentido obrigatório de circulação de pedestres, sendo permitido a eles deslocar-se em qualquer direção, de maneira tal que qualquer veículo ali presente invade o espaço que é por direito do pedestre.
Em outras palavras TODA CALÇADA É PASSEIO (na totalidade e qualquer tipo) não importando se o veículo que ali estaciona deixa um ou mais metros para uso do pedestre.
Cuiabá é uma Cidade de excepcional beleza natural com um povo acolhedor, alegre e trabalhador. Futura sub-sede da Copa do Pantanal, de clima quente, mesa farta, rica cultura regional, motivo de tanto orgulho para nós cuiabanos de nascimento ou de coração.
No entanto, precisamos deixar de lado velhos vícios provincianos e abraçar a onda de progresso e modernidade que a Copa do Pantanal trará. Implantando-se de vez o conceito de mobilidade urbana em nossa cidade. Com o nosso Poder Público Municipal, nossos cidadãos comerciantes e motoristas garantindo ao pedestre o uso dos passeios públicos.
Que seja nosso o sonho uma Cuiabá modelo em respeito ao meio ambiente mostrando ao mundo nosso Pantanal. E uma questão de honra para o poder público o respeito aos direitos do ser humano nas vias da Capital.
Marcos Silva de Sousa é Servidor Público Municipal, Graduado em Administração pela UFMT, Especialista em Gestão Pública pela FAUC e palestrante de trânsito em Cuiabá -MT.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Estacionamento Irregular
Av. Tenente Coronel Duarte (Próximo ao Morro da Luz)
Av. Hist. Rubens de Mendonça (em frente ao Edifício Mestre Inácio)
Silvio Furtado
sábado, 13 de junho de 2009
A NOVA PICAPE DA VOLKSWAGEN CHAMA-SE AMAROK
Com a Amarok a Volkswagen vai entrar nos mercados mundiais de picapes, até então dominados predominantemente por fabricantes japoneses. No último IAA Salão de Veículos Comerciais de Hannover, em setembro de 2008, a Volkswagen apresentou o primeiro estudo do veículo. A Amarok será produzida na fábrica de Pacheco, na Argentina.
O nome Amarok vem da língua dos Inuit, um povo esquimó, que vive no Norte do Canadá e na Groenlândia, e significa lobo. Para os Inuit, o lobo representa o rei da vida selvagem e impressiona por sua força e robustez, sua resistência e sua superioridade.
Os mercados da Argentina e do Brasil são considerados os principais para o novo produto. "O nome Amarok combina de forma excepcional com as propriedades da nossa picape, que estabelecerá novos padrões em sua categoria. Escolhemos este nome, que tem validade mundial, com esmero e cuidado. O nome Amarok despertará associações positivas em todos os principais mercados internacionais e deverá representar um forte argumento diante de seus concorrentes diretos desde o princípio", afirma Stephan Schaller, CEO da Volkswagen Veículos Comerciais. No segmento de picapes de 1 tonelada, a Amarok deverá competir, sobretudo, com os modelos asiáticos. O modelo representa um marco importante na estratégia de crescimento do Grupo Volkswagen e abre um novo segmento para a marca.
De acordo com Schaller, "a Amarok leva a marca para uma nova dimensão, ainda mais internacional. A Volkswagen está orgulhosa por desenvolver, construir e vender este veículo extremamente importante para o crescimento de todo o Grupo, expandindo, assim, de forma estrategicamente adequada, o seu programa de oferta mundial."
A Amarok é um desenvolvimento completamente novo e será lançada primeiro na versão com cabine dupla com tração nas quatro rodas. Posteriormente também será oferecida a versão de cabine simples. Entre as suas principais características, destacam-se a tecnologia moderna e robusta, os motores econômicos e a linguagem atual de design da Volkswagen. O estudo apresentado no IAA já permitiu uma primeira impressão do modelo.
A Amarok será equipada com a mais moderna geração de motores turbodiesel da marca, os Common-Rail-Turbodiesel TDI, potentes e ao mesmo tempo econômicos. O consumo e as emissões da Amarok deverão atingir patamares ainda mais baixos dentro de seu segmento. A Amarok chegará ao mercado no primeiro trimestre de 2010, primeiramente na América do Sul e Central e, em seguida, na Rússia e na Europa, bem como na África e Austrália.
SUZUKI LANÇA NOVA BURGMAN 400
Com 400 cm³, seu propulsor reformulado oferece mais desempenho do motor monocilindro, quatro tempos, com quatro válvulas, DOHC e refrigeração líquida. A scooter oferece potência de 34 hp a 7.300 rpm e conta ainda com um moderno sistema de injeção eletrônica de combustível que aperfeiçoa a alimentação do motor e garante maior economia de combustível, desempenho e proteção ao meio ambiente, devido ao novo sistema de exaustão.
O novo Burgman 400 também está equipado com o sistema PAIR, que realiza de modo eficiente à queima dos gases do escapamento, inibindo a emissão de poluentes na atmosfera, atendendo o limite de emissões de poluentes PROMOT 3.
Possui um sistema de Controle de Marcha Lenta ISC que regula o volume de ar, resultando em uma marcha lenta estável, melhorando também a partida à frio.
A roda dianteira aumentou para 14” e agora vem com duplo disco de freio com diâmetro de 260 mm de acionamento hidráulico.
Outro ponto que garante praticidade e conforto é a transmissão automática, característica da classe dos scooters, que dispensa o uso da embreagem e a troca de marchas.
Em conjunto com a bolha acrílica, a carenagem frontal concede a Burgman 400 protege o piloto do vento e da chuva. Ainda na parte frontal scooter há três opções de porta-luvas, sendo que o maior deles possui 10 litros de capacidade e trava com chave.
Sob o banco há um porta-objetos com 62 litros de capacidade, suficiente para abrigar dois capacetes grandes e mais alguns objetos. O preço sugerido ao público é de R$ 26.900,00.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Imagem do dia
terça-feira, 9 de junho de 2009
A Copa e o desafio do trânsito
Cuiabá tem um grande desafio pela frente, se preparar para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Fomos escolhidos como cidade sede. Ótimo! Agora é hora de trabalhar. Governos do Estado e município têm que estar em sintonia para a execução e concretização das obras que virão nos próximos anos. A grande dificuldade será a acessibilidade, a mobilidade urbana, ou seja, o trânsito. A maior parte de nossa malha viária é antiga, composta de ruas estreitas e sinuosas. Precisamos de alternativas de acesso aos extremos da cidade para evitar a lentidão e congestionamentos, para garantir fluidez inclusive nos horários de pico.
Grandes obras estão projetadas, restaurações, duplicação de vias, alongamento de faixas, construção e reforma de viadutos, construção de trincheiras, construção e reforma de pontes e até duplicação de rodovias, como os acessos a Chapada dos Guimarães, Lago de Manso, Nobres, Poconé e Rondonópolis. Também precisamos de alternativas de estacionamento na área central. E o estacionamento rotativo, como será? O atual e arcaico projeto faixa-verde ou os modernos parquímetros? Voto pelos parquímetros, pois são utilizados no mundo todo e os turistas saberiam lidar com eles facilmente.
Além disso, precisamos de uma sinalização horizontal e vertical de qualidade, nos moldes do manual brasileiro de sinalização de trânsito. Como teremos muitos visitantes estrangeiros, a sinalização vertical precisa ter informações em língua inglesa, pelo menos. Placas de advertência, de informações complementares, de identificação de logradouros, indicativas de sentidos e principalmente placas educativas e de informações turísticas.
E a fiscalização no trânsito, como será? O uso de equipamentos de fiscalização eletrônica contribui muito para a segurança no trânsito, diminuindo a freqüência e gravidade dos acidentes. Os países europeus e os Estados unidos, principalmente, todos tem fiscalização eletrônica. E no Brasil, Cuiabá é a única capital que não possui este sistema.
Sabemos que Cuiabá teve uma experiência infeliz entre os anos de 1998 e 2002, com a instalação da fiscalização eletrônica eivada de irregularidades. Porém estamos em outra época, os procedimentos de licitação são transparentes e o funcionamento dos aparelhos só se dá após aferição do Inmetro conforme determina resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). E a Fifa provavelmente exigirá uma postura firme do município em relação á fiscalização no trânsito. Então, que a prefeitura instale os aparelhos o quanto antes. O Movimento Paz no Trânsito agradece. Será bem vindo!
É muito trabalho, a tarefa á árdua e dias difíceis virão, teremos muitos problemas causados pelas obras, transtornos no trânsito, problemas com as desapropriações... Mas Cuiabá vencerá todas as dificuldades e com certeza faremos muito bonito como cidade sede da Copa do Mundo de Futebol.
Sílvio Furtado de Mendonça Filho
Descarga no Centro é motivo de queixas
Um exemplo disso é a rua General Vale, nas proximidades do Pronto-Socorro de Cuiabá, onde existe várias lanchonetes e restaurantes. Constantemente a rua é tomada por caminhões que param em frente dos estabelecimentos comerciais para fazer a descarga dos produtos.
Para o taxista José Aparecido de Cerqueira, o congestionamento causado por esses veículos é visto por toda a cidade. Segundo ele, a falta de amarelinhos para fiscalizar contribui para a infração. De acordo com o arquiteto José Carlos Rachid Jaudy, a rua 13 de Junho é outro ponto complicado para transitar. “Na praça Ipiranga, perto do Ganha Tempo, o congestionamento é terrível. As lojas permitem que os caminhões de carga parem por ali deixando o trânsito horrível”, reclama.
O comerciante Carlos Rodrigues do Carmo, que possui uma lanchonete na rua General Vale, diz que na região há um local destinado para a realização de carga e descarga de mercadorias, mas está sem sinalização e vive ocupado por carros de passeio. “Não sei quem tirou a sinalização de lá. Quando os caminhões chegam para fazer a entrega, não tem onde estacionar. Às vezes eles param na rua mesmo, mas já houve situações em que ficamos sem repor a mercadoria pela falta de um lugar apropriado para descarregar os produtos”, explica Carlos.
O dono de uma lanchonete localizada na mesma região, o comerciante Dralzio Itor Jacinto diz que a descarga geralmente é feita rapidamente, demorando apenas nos casos de bebidas. “Demora mais um pouco porque são vários engradados e pesados”, explica.
O comerciante Carlos acredita que se o local destinado para a carga e descarga voltasse ser sinalizado, e os demais condutores não ocupassem a vaga, o problema seria solucionado, pelo menos da região.
De acordo com o diretor de Trânsito da Secretaria de Trânsito e Transporte de Cuiabá, Dativo Rodrigues da Silva, uma equipe técnica irá até o local para verificar o problema e readequar a sinalização.
Diante dos demais locais da cidade, garante, constantemente são feitas fiscalizações. De acordo com dados da SMTU, de janeiro a maio deste ano já foram registradas 400 autos de infrações por descumprimento do decreto municipal nº 2.721, que fixa o horário para carga e descarga de mercadoria, proibindo a prática em horário comercial.
Jornal Diário de Cuiabá
13 de Junho, Copa e paz no mundo
Não vou celebrar a guerra, nem mocinhos ou bandidos, vencedores ou perdedores, e sim falar de vítimas, mártires e heróis, principais produtos em todos os lados de uma guerra. Lembro 13 de Junho, reverenciando o maior martírio sofrido pela gente cuiabana. Antes, matéria escolar obrigatória, hoje, pouco a pouco esquecemos que o maior conflito das Américas ocorreu aqui, e que Cuiabá pagou muito caro por ela. A Guerra do Paraguai reuniu Brasil, Argentina, Uruguai e interesses ingleses contra o Paraguai, na época o país mais poderoso na América Latina. Mato Grosso foi o trágico palco principal.
Entre os diversos episódios vividos pelos cuiabanos na Guerra do Paraguai, um dos mais épicos foi o da Retomada de Corumbá, a 13 de Junho de 1867, cidade então mato-grossense que havia sido tomada pelos paraguaios. Os cuiabanos foram lá, enfrentaram o mais poderoso exército do continente e retomaram para o Brasil aquela importante cidade, num “fato heróico exclusivamente cuiabano”, como nos ensina Pedro Rocha Jucá, organizados pelo Presidente Couto Magalhães e comandados pelo então Capitão Antônio Maria Coelho. Sem reforços externos, só forças militares locais, acrescidas de voluntários.
Mas a história não para por aí. As tropas voltaram à Cuiabá contaminadas com a varíola, pois havia um surto da doença em Corumbá quando da retomada. A epidemia tomou conta de Cuiabá, matando mais da metade de sua população. Segundo Francisco Ferreira Mendes, em cada casa havia pelo menos um doente, e “a cidade ficou juncada de corpos insepultos, atirados às ruas, cuja putrefação empestava mais a cidade com a exalação produzida pela decomposição. Determinou o governo a abertura de valas e a cremação de cadáveres no campo do Cai-Cai, medida que se tornou ineficaz. Não raro eram visto cães famintos arrastando membros e vísceras humanas pelas ruas.”.
13 de Junho, para sempre deve lembrar a epopéia de bravura e dor de um povo humilde, mas determinado. A história de gente de carne e osso, não de livros, de novelas ou filmes, mas que anda aí na Praça Alencastro, no Porto, no Coxipó ou no CPA, sem mais se lembrar que em suas veias corre o valoroso sangue de seus bisavós, o mesmo que vem bravamente construindo e defendendo nosso país por quase três séculos. Hoje, na pracinha do Cai-Cai, nenhuma homenagem. A própria cidade expandiu abraçando o campo santo, outrora afastado. Ainda resta uma cruz, solene, e uma igrejinha ao lado onde as missas dominicais são “pela intenção dos bexiguentos”, ainda que a maioria dos fiéis não saiba mais do que se trata.
Com a escolha de Cuiabá como sub-sede da Copa de 2014, Mato Grosso mais uma vez será palco de um importante evento internacional, agora festivo e promotor da paz entre os povos. No caminho do Verdão, a interseção da Avenida 8 de Abril, com a Ramiro de Noronha e Thogo Pereira configura-se como um estrangulamento viário a ser solucionado como alternativa de fluidez de tráfego entre a Av. Miguel Sutil e a XV de Novembro. Contígua à essa interseção, a Praça do Cai-Cai poderia integrar esse projeto urbanístico, compondo uma nova capela e uma nova praça, na qual seja projetado um monumento à paz, digno e solene, homenageando os heróis e mártires de todas as guerras, em nome dos nossos irmãos e hermanos, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para nunca mais ser repetida. Além de mais uma atração turística, um local que possibilite, no dia 13 de junho de 2014, a realização de uma cerimônia de caráter internacional ajudando o futebol na sua nobre tarefa de promover a paz no mundo.
* JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é professor universitário
joseantoniols2@gmail.com
O airbus nosso de cada dia
A queda do avião da Air France mobilizou até o papa, que fez orações pelos passageiros e tripulantes e mandou mensagens de conforto para a França. O presidente Sarkozy e Carla Bruni demonstraram a dor do governo do país sede da empresa estatal proprietária do avião e sede do consórcio construtor do Airbus. O presidente Lula igualmente se manifestou, rezou-se uma missa na Candelária; na capital, houve homenagens a um dos passageiros ilustres, o maestro Sílvio Barbatto, que fora regente da Sinfônica do Teatro Nacional. O tamanho da tragédia - 228 pessoas estavam a bordo - emocionou o mundo e provocou dor em 32 países, origem de passageiros e tripulantes. E nada mais justo, antes do 4 a 0, que as seleções do Uruguai e do Brasil fizessem um minuto de silêncio no Estádio Centenário.
Deveríamos fazer um minuto de silêncio a cada partida de futebol disputada no Brasil para lembrar os mortos do dia. A cada dia, no nosso país que chamávamos de pacífico, são mortos em assassinatos e no trânsito, bem mais que os 228 que viajavam no voo 447. Se são 50 mil homicídios por ano, a média diária de assassinatos é de 137. Se são 80 mil mortos por ano no trânsito - aí adicionadas às estatísticas oficiais as estradas municipais, vicinais e as cidades do interior, mais os mortos até 90 dias após o acidente - então são 219 mortos ao dia. Somados, são 356 mortos por dia, a cada dia do ano. É mais do que um airbus 330 caindo por dia.
Por que isso não nos escandaliza? Não nos mobiliza? Não provoca reação do papa, de Lula, da seleção brasileira, da Câmara e do Senado, dos governadores e prefeitos, de todos nós? Que diferença existe entre as vítimas que estão acima das nuvens e as que estão sobre a terra? São mais de 300 brasileiros mortos todos os dias, sem estarem indo para Paris. São mais de 300 famílias atingidas a cada dia por uma tragédia. São mais de 300 causas de violência a respeito das quais não mergulhamos em busca das caixas pretas que revelem motivos.
Depois de recolherem os cadáveres do voo 447, as buscas vão procurar as caixas pretas, para investigar as causas do acidente e estabelecer mudanças para que as causas não se repitam. Entre os brasileiros que não estavam indo para Paris e encontram a morte a cada dia, depois de chorados e enterrados os corpos, abandonamos as buscas das causas de tanta violência nas ruas brasileiras. Não procuramos saber o que motivou as mãos que mataram, quer segurando uma arma ou um volante. Corremos o sério risco de banalizarmos essa matança diária; de ela se tornar natural. É por isso que um acidente aéreo mexe tanto com os meios de informação, as autoridades, as pessoas: porque não são rotina, não foram banalizados. Se permitirmos a banalização das nossas quotidianas mortes violentas por nossa falta de reação, acabaremos todos condicionados a aceitar nossa tragédia diária, a queda do nosso airbus de cada dia.
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br
Jornal A Gazeta
A "Lei Seca" é uma falácia?
A "Lei Seca", criada em 19 de junho do ano passado e lançada pelo governo federal com grande estardalhaço, ao que tudo indica se tornou uma falácia, o que é lamentável. Apesar das críticas que recebeu, a lei tem um objetivo nobre, que é reduzir o número de acidentes no trânsito brasileiro e, consequentemente, preservar a vida.
Assim que começou a vigorar, o número de acidentes nas estradas reduziu, os serviços de resgate viram o número de atendimentos cair e nos hospitais o movimento diminuiu. As pessoas estavam receosas de beber e dirigir, já que o ponto forte da lei atinge diretamente o bolso do motorista. Quem for pego embriagado e dirigindo recebe multa de R$ 955 e tem o direito de dirigir suspenso.
Tudo parecia que ia muito bem. Policiais nas ruas, bafômetros por todos os lados e um pouco mais de consciência na cabeça do brasileiro, já que muitos ao saírem para se divertir estavam escolhendo o motorista da rodada.
A sensação é que uma lei para melhorar o trânsito nesse país finalmente iria funcionar. Mera ilusão. O "medo" das pessoas passou, as blitze diminuíram, os bafômetros "sumiram" e a mistura fatal bebida e direção voltou a ser vista com frequência nas cidades e nas rodovias do país.
O resultado disso tudo são as tragédias que não param de acontecer. Neste final de semana dois motoristas embriagados provocaram graves acidentes. Em um deles uma criança de 3 anos morreu depois que um Gol em alta velocidade atingiu o ônibus onde ela, a mãe e a irmã viajavam. Na BR-070 um outro acidente deixou 10 pessoas feridas. O condutor do veículo, que transportava 11 pessoas, não tinha Carteira Nacional de Habilitação.
Onde está a falha? Na fiscalização? Com certeza se a cobrança fosse maior o número de acidentes com vítimas fatais teria reduzido. Mas não será apenas isso que vai fazer a "Lei Seca" vingar no Brasil. Os resultados só serão alcançados com a participação de todos. É preciso que as pessoas tenham consciência que os riscos em dirigir embriagado vão muito além de uma multa, pode ser o fim de uma ou de muitas vidas, incluindo a do próprio condutor. Tudo isso passa pela educação, que não pode ser imposta, mas aprendida no decorrer da vida.
Jornal A Gazeta (Editorial - edição 6416)