Cuiabá, outubro de 2013. A cidade está rasgada e suja pelas diversas (e lentas) obras, amplamente divulgadas sob o conceito de “mobilidade urbana”. O termo, entretanto, tem um significado mais amplo. Pense comigo. Se Cuiabá realmente fosse oferecer mobilidade á população, ela ofereceria condições necessárias para o deslocamento de pessoas. Atenção caro leitor! Não estamos falando isoladamente de carros, e sim de pessoas.
Pessoas, em uma metrópole se locomovem de maneiras diferentes, seja no carro, na moto, na bicicleta, à pé, em uma cadeira de rodas, no transporte público, entre outros. E essas pessoas tem o direito de se locomover com facilidade, para o destino que quiser, independentemente do tipo de veículo utilizado. Segundo o conceito de mobilidade urbana. Essas pessoas tem que ser contempladas, e não apenas parte delas.
Analisando os fatos, é fácil perceber que um cadeirante não tem a menor condição de locomoção na capital. Um ciclista tem que praticamente disputar espaço nas ruas e avenidas, sob buzinas e condutas arriscadas de outros motoristas (que ainda veem o ciclista como um intruso, numa demonstração de total desconhecimento do Código de trânsito brasileiro), além de ser pouco apoiado pelas políticas públicas, que pouco investem em ciclovias e ciclofaixas. Mesmo com exemplos assim, a administração pública classifica as obras como de “mobilidade urbana”. Anda que, pelo menos, venhamos a ter futuramente, um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), (que por si só é um exemplo de mobilidade urbana eficiente e sustentável) não vamos adquirir mobilidade, num trânsito que claramente prioriza o transporte motorizado individual.
Voltemos então a falar do mesmo cadeirante citado acima, que será contemplado pelo VLT e toda sua infraestrutura acessível. Mas, será que ele terá condições de sair dos portões da sua casa, atravessar calçadas que mais se assemelham a trincheiras de guerra, tamanho nível de irregularidade? Digamos que ele consiga chegar ao ponto de ônibus (que possivelmente não terá um abrigo da chuva e do sol), será que ele conseguirá utilizar os ônibus da capital, que o levarão até o VLT? E as trincheiras viárias, como estão suas ciclofaixas? E as ciclofaixas existentes(ex: av. das Torres), deixarão de ser ocupadas por pessoas que estacionam irregularmente?
Que me desculpem os idealistas que estão alegres com os “avanços”, mas sob o ponto de vista da mobilidade, estamos vivendo um assustador retrocesso, cujos viadutos e trincheiras contribuirão ainda mais para tornar o trânsito mais hostil para a sociedade. Um espaço fechado para veículos automotores, que as pessoas e bicicletas não têm coragem de enfrentar. a tendência é que nem mesmo os carros consigam se mover pelas nossas ruas.
*RENATO SNOWARESKI GOMES é estudante de Administração, Cicloativista e defensor de cidades mais amigáveis.
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