segunda-feira, 11 de abril de 2011

2014 - Será que vamos perder o bonde da história?


Grandes oportunidades aparecem poucas vezes na vida. Para individuos ou para sociedades a máxima é a mesma: A oportunidade é uma mulher que só tem cabelos na frente da cabeça e é calva pelas costas; só se pode agarrá-la de frente, se passou por você já era!

2014 representa uma janela de oportunidade para o Brasil e para as cidades sede dos jogos da Copa. Uma chance sem par de conseguir recursos para sanar velhas deficiências e de até dar uma guinada na direção da modernidade.

Para Cuiabá o montante de investimentos carreados para sediar a copa é a esperança de mudanças principalmente no malfadado trânsito da capital. Olhe que ainda não chegamos aos escatológicos congestionamentos da grande São Paulo, e isso já é um consolo...

Contudo, as decisões sobre como gastar os recursos que a copa proporciona tem sinalizado que, por aqui, trilharemos os mesmos caminhos da capital paulista com grandes obras de "mobilidade" como túneis, viadutos e trincheiras visando aliviar os congestionamentos que teimam em atazanar a vida do condutor cuiabano.

Essa dita "mobilidade" está sendo pensada aqui apenas para aqueles que possuem um automóvel ou veiculo motorizado. Será que aqueles pobres desassitidos que não podem comprar um carro ou moto, ou que optaram por outra forma de transporte não podem desfrutar da mobilidade?

O plano da agecopa vai na contramão de tudo o que entendemos como mobilidade sustentável. Nossa capital já foi conhecida como a Cidade Verde, título esse que há tempos já não faz jus. Há tempos já não se vê o verde tomando conta da capital, pois além da ação de vândalos que continuamente depredam as mudas que a prefeitura insiste em plantar nos corredores da cidade, agora em nome da modernidade exigida para sediarmos a copa vamos também estreitar calçadas e canteiros centrais para abrigar novas faixas de trânsito, para o BRT e para os carros.

E o pedestre? E onde vamos plantar árvores para amenizar o mítico calor de Cuiabá?

Ah, Alguém ja ouviu falar em alguma obra para o ciclista?

Sustentabilidade é a palavra que define algo que á longo prazo pode ser mantido sem grande despêndio de recursos. O projeto inicial para candidatura á sub-sede do mundial de 2014 previa novos meios de transporte, com um moderno VLT que ligaria Várzea Grande a Cuiabá, movido com energia limpa (biodiesel ou eletricidade), integrando duas cidades que formam uma metrópole, cidades irmãs que compartilham das mazelas do trânsito e dos efeitos desastrosos de uma administração equivocada.

Mas que podem se beneficiar á longo prazo de decisões acertadas a serem tomadas agora, na opção pela mobilidade inclusiva em que ciclistas e pedestres também sejam considerados, em que a cidade seja projetada para abrigar confortávelmente seus habitantes, e , em que os problemas coletivos sejam solucionados pensando coletivamente e não individualmente em um eventual atalho.

Estes investimentos deveriam se prestar a preparar a região para ser o portal de entrada do pantanal e da amazônia realizando assim a vocação do Mato Grosso para o turismo, essa industria que é capaz de dar uso á infraestrutura demandada pelo mundial. Diversificar o modal de transporte, humanizar a cidade, desenvolver potencialidades, poupar o meio ambiente e, também vidas humanas hoje estupidamente perdidas na violência do trânsito.

O problema do trânsito só pode ser resolvido se buscarmos a sua causa. E a causa do caos no trânsito não se encontra nele mesmo. A causa está localizada em decisões obsoletas para o transporte coletivo das massas. Ninguém deseja se locomover de ônibus no Brasil, e, quando digo ninguém não é mera figura de linguagem. Basta ver a debandada dos passageiros do transporte coletivo para as soluções individuais como a motocicleta e os carros, hoje acessíveis em parcelas que cabem no orçamento do povão, reflexo do bom momento do país.

Parece atrativo abandonar o G.O.L. - Grande Ônibus Lotado, ou para muitos G.O.L.F. - Grande Ônibus Lotado e Fedido por um agradável veiculo com cheirinho de novo, sinônimo da libertação do aperto desconfortável, das filas, da incerteza de chegar á tempo que é a marca registrada do BUSÃO.

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