terça-feira, 18 de junho de 2013

As vozes e os gritos do povo

Juacy da Silva

O povo, principalmente as massas de trabalhadores, são transportados em ônibus, trens, metros, vans, lotações que mais se parecem com caminhões para transporte de gado, de animais, jamais seres humanos que merecem respeito e dignidade...

Quando Marx, Engels, Lenin, Mao Tsé Tung, Fidel Castro, Che Guevara e tantos outros revolucionários que escreveram ou agiram em prol das revoluções socialistas/comunistas que mudaram não apenas os regimes políticos, sociais e econômicos de seus países, mas também a configuração da política internacional jamais imaginaram que no futuro a mobilização das massas poderia ser realizada sem a direção de um partido que representasse os trabalhadores e as massas oprimidas, atualmente denominadas de “excluídos” e  que tudo isso pudesse ocorrer sem um substrato ideológico.

Graças às mudanças tecnológicas do final do século XX e início deste novo milênio como a televisão com abrangência internacional, a internet e  as redes de computadores,  em questão de minutos as notícias correm o mundo e também as pessoas podem ser mobilizadas de forma efetiva para protestarem contra qualquer coisa, inclusive contra governos opressores, corruptos e serviços públicos de má qualidade, corrupção nos aparelhos do Estado, brutalidade dos aparelhos de repressão do Estado, cargas tributárias que pesam exageradamente sobre os ombros e no bolso dos contribuintes ou simplesmente contra aumentos abusivos no preço das passagens.

Ao longo da história sempre que ocorreram grandes manifestações de massa os resultados foram e continuam imprevisíveis, inclusive a queda de governos e de regime. Assim aconteceu com as revoluções francesa, norte-americana, russa de 1917. Também no Brasil podemos identificar as grandes mudanças a favor e contra o governo João Goulart e a derrubada do Governo, a marcha pelas “diretas já” e o fim do regime militar, as manifestações dos “caras pintadas” e a renúncia/cassação de Collor e mais recentemente nas revoltas no mundo árabe.

A rebelião das massas pode tomar rumos que nem o governo e seus organismos de repressão ou nem mesmo os organizadores imaginam quando são iniciadas as mobilizações das grandes massas. Dependendo do nível de repressão/brutalidade por parte dos aparelhos do Estado uma manifestação que se inicia pacificamente pode descambar para uma violência generalizada.

No caso do que está acontecendo no Brasil neste momento a origem, o motivo inicial ou aparente foi o aumento abusivo das tarifas de transporte público que tem ocorrido nos últimos dois anos e a baixa/péssima qualidade deste serviço. O povo, principalmente as massas de trabalhadores, são transportados em ônibus, trens, metros, vans, lotações que mais se parecem com caminhões para transporte de gado, de animais, jamais seres humanos que merecem respeito e dignidade.

O setor de transporte público parece que é comandado não pelos poderes públicos concedentes, mas muito mais por máfias de criminosos que se digladiam por seus espaços e territórios, da mesma forma que acontece com o setor de lixo/resíduos sólidos, obras de infraestrutura. Na verdade, tais práticas (prorrogações de concessões de forma ilegal e ilícita, aumentos de tarifas sem levar em condição o valor do salário dos trabalhadores e a qualidade dos serviços prestados) ajudam a perpetuar os mesmos grupos neste setor. Parece que os governantes estão muito mais a serviço dos interesses dos grandes grupos econômicos (que financiam suas campanhas eleitorais e se tornam senhores dos governantes eleitos) do que dos reais interesses do povo.

Voltando aos tempos da internet , do facebook e de outras redes sociais e dos avanços tecnológicos na áreas da comunicação. Os protestos desta segunda feira (17 junho) em  mais de uma dezena de capitais, alguns com mais de 100 mil participantes já estão nas primeiras páginas de jornais, revistas e redes de TV no mundo todo, principalmente na Europa, nos EUA e até mesmo na China.

Além das fotos, incluindo cenas de brutalidade policial e de vandalismo por parte de alguns manifestantes, as análises desses veículos de comunicação também destacam que tais manifestações de massa não são apenas contra o aumento do preço das passagens de transporte urbano, mas sim também contra gastos perdulários dos Governos Federal e Estaduais com obras faraônicas da COPA, dezenas de bilhões de reais, enquanto a saúde, a educação, a segurança, o saneamento  e a infraestrutura geral e urbana vivem em completo caos e descaso por parte dos governantes.

A imagem que o mundo a cada dia tem sobre o Brasil é de um país dividido entre um grupo privilegiado que vive nababescamente enquanto milhões não tem moradia, saúde e segurança, e transporte e desfrutando de baixa qualidade de vida. Essas grandes massas soltaram suas vozes e seus gritos, cabe agora à elite dominante, os atuais donos do poder (que em passado recente também ajudaram a mobilizar as massas contra o regime militar, chegando até  mesmo pegar em armas para a derrubada do governo, promoveram guerrilhas urbanas e rurais) compreenderem que todas essas demandas devem ser atendidas enquanto é tempo.

As massas populares demoram para sair as ruas, mas muitas vezes só voltam para suas casas quando suas demandas são atendidas. O povo que protesta quer que seus direitos sejam  respeitados e que possa viver com dignidade. Isto não é exigir demais! Afinal são eleitores e contribuintes e merecem respeito por parte dos governantes!

JUACY DA SILVA, professor universitário UFMT, mestre em sociologia

Blog: www.professorjuacy@blogspot.com

Nenhum comentário: