A falta de respeito às leis, somado às vias construídas sem planejamento a longo prazo, fazem de Cuiabá um dos piores locais para se dirigir e andar do país.
Usando como desculpa a pressa, motoristas transformam o trânsito de Cuiabá num verdadeiro "caos". A falta de respeito às leis, unida às vias construídas sem planejamento a longo prazo, fazem da Capital de Mato Grosso um dos piores locais para dirigir e andar do país.
Os carros estacionam em cima da calçada e o pedestre precisa invadir a pista, correndo o risco de ser atropelado. Os ônibus não respeitam o espaço destinado a eles, para que os usuários embarquem e desembarquem. Eles ficam parados no meio da pista e param os demais veículos, formando grandes filas. O semáforo também passa a ser "alegoria" em alguns locais. Com a desculpa de ficar apenas "1 minutinho", ônibus e lotações congestionam vias importantes e impedem o fluxo.
Em uma tarde a reportagem acompanhou o tráfego de Cuiabá, junto com 2 agentes de trânsito - os "Amarelinhos" como são conhecidos - e pode constatar todos os tipos de irregularidades. Flagrantes que poderiam até ter tirado a vida de um cidadão.
Um dos exemplos está na avenida Brasília, no Jardim da Américas. O local é um dos mais sinalizados da Capital e fica entre uma galeria de comércio e um shopping. As advertências estão nas placas e também no chão, mas mesmo assim, os condutores não respeitam. A agente de trânsito Claudia Borges explica que foi realizada uma obra recentemente para aumentar 1 pista e foi proibido o estacionamento no percurso que dá acesso ao Coxipó. O problema é que sempre há um carro parado no local e impede toda a trafegabilidade, tornando as modificações sem eficácia.
Quando os motoristas viam as agentes, tiravam rapidamente o veículo. "A ação mostra que eles têm consciência que fazem coisa errada", argumenta Claudia.
Outro problema é a área de embarque e desembarque, que é utilizada como estacionamento. A agente Mauricéia Mendes fala que o condutor pode ficar no espaço tempo suficiente para carregar o carro ou deixar um passageiro, mas costumam não respeitar a regra. Alguns até ficam dentro do carro, com o pisca alerta ligado, mesmo assim, podem ser multados porque não estão utilizando a área como manda a legislação.
Na avenida Barão de Melgaço, onde existem várias agências bancárias, os veículos ficam no meio da pista e quando o agente chega, o condutor diz que é rapidinho. O que não justifica e causa congestionamento, as cenas são comuns na área central. Buzinas em sincronia e motoristas usando palavrões para mostrar a revolta.
Claudia afirma que os condutores que andam corretamente são um espécie de agente. Eles também fiscalizam e cobram atuação do poder público.
Calçadas - Para andar nas calçadas de Cuiabá, o pedestre precisa ser "malabarista". Caso ele seja portador de necessidades especiais e tenha qualquer tipo de comprometimento da locomoção, a caminhada é quase impossível.
Os comerciantes reclamam da falta de estacionamento e rebaixam as calçadas, o que é proibido. A situação reduz o espaço do pedestre, que precisa ir para rua e competir com os carros para achar espaço. As manobras para retirada dos carros também compromete a trafegabilidade. Na avenida Coronel Escolástico a calçada está rebaixada entre dois pontos de ônibus.
O comerciante José Antônio Pinheiro, 38, estava com o carro parado na calçada. Uma das lojas, colocou um papel na porta, informando que era proibido, mas ele fala que não viu porque era pequeno.Apesar de não saber que a ação era ilegal, ele veio perguntar para as agentes se estavam aplicando multas.
O aposentado Cesarino Pires de Moraes, 67, sempre passa pelo local e reclama da obstrução do carros. Ele conta que nos horários de pico, o conflito fica grande e é complicado para os pedestres.
Vagas de idoso e deficientes -Os espaços reservados para estacionamento de idosos e também portadores de necessidade especial (PNE) normalmente estão ocupados por condutores que não possuem nenhuma das duas características. Na frente da Igreja Matriz, por exemplo, a vaga é usada como ponto de mototaxi.
A agente Mauricélia fala que a situação é complicada. Ela foi com a equipe de reportagem na avenida Historiador Rubens de Mendonça, avenida do CPA, e os carros que estavam estacionados não tinham idoso ou PNE.
O aposentado José Guilhermino Soares, 62, viu as agentes na rua e estava com o cartão de idoso. Ele disse que o espaço reservado estava com outro carro, sem a identificação e que precisou parar no local de PNE.
O homem sempre verifica a utilização das vagas reservadas e fala que dificilmente estão sendo ocupadas por quem tem direito.
A agente argumenta que para usar a vaga não basta ser idoso ou PNE. As pessoas precisam fazer um cadastro na Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (SMTU) e retirar um cartão.O objeto deve ser deixado no painel do carro, em local visível e substitui os antigos adesivos, que eram colocados no pára-brisa.
A lista é nacional e o número de inscrição pode ser checado pelo rádio. Assim, a pessoas podem utilizar a vaga reservada em qualquer lugar do país.
Agressões - Os agentes de trânsito são vítimas de agressões físicas e verbais todos os dias em Cuiabá. A agente Claudia fala que para evitar problemas, os servidores costumam fazer as abordagens em grupo.
Os flanelinhas também dificultam o trabalho. Atrás do prédio da Polícia Federal, um deles costuma ameaçar os agentes.
No local, as pessoas estacionam em cima da calçada e fecham a rua que fica sem espaço para passar. Como os carros são "cuidados" pelos flanelinhas, eles intimidam os agentes para não perder a fonte de recurso.
Além de palavrões, situações inusitadas causam constrangimento e rendem contos curiosos. Mauricélia relata que um dia foi até uma igreja evangélica que colocou portais na calçada, na entrada do imóvel.
O material estava obstruindo a calçada e um grupo de agentes foi ao local falar para o responsável retirar. O pastor, que os atendeu, falou que eles não tinham medo de Deus por isto iam incomodar. Era para os agentes procurarem locais do diabo para achar problemas. O escândalo foi grande.
Outro fato curioso foi de um homem que estava no celular e parou no semáforo. A agente apitou para advertir e ele estava empolgado na conversa, bem como com os vidros fechados devido ao ar condicionado, e não ouviu.
A servidora parou na frente do carro e apitou novamente. O homem, quando viu a "amarelinha", ficou assustado e jogou o aparelho no pára-brisa.
Motoqueiros - Os motoqueiros são considerados os "vilões" do trânsito, mas segundo o mototaxista Ismael Rodrigues da Silva, 42, motoristas distraídos e motoqueiros descuidados é sinal de acidente. Ele fala que há muitas pessoas que realmente andam sem obedecer as leis, mas no trânsito, sempre vence a lei do mais forte. Então, as pessoas que pilotam motos devem ter reflexos de goleiro de futebol e também saber prever as possibilidades de acidente.
A situação se repete entre ônibus e carros. Mauricélia argumenta que os motoristas de coletivo costumam se impor pela força. Isto acontece devido a pressa, já que os itinerários são calculados de maneira errada. A servidora argumenta que entre o Pedra 90 e o centro o tempo gasto de ser 40 minutos, o que é impossível, levando em consideração o tumulto do trânsito da Capital.
Fonte: Jornal A Gazeta (Edição 6589, de 06 de Dezembro de 2009)
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