O uso de bicicleta como meio de transporte deveria ser estimulado pelo poder público. Por vários motivos. É um meio de transporte limpo, sillencioso e mantém a forma física saudável do seu usuário.
Mas com tantas vantagens, ainda são poucas as cidades que estimulam o uso da bicicleta - faltam ciclovias ou essas são inadequadas.
Por trás desse descaso público com as ciclovias, está a ênfase exagerada ao automóvel. Por décadas administradores se preocuparam com esse meio de transporte em detrimento de outras alternativas mais ecológicas. O transporte público, aí incluídos ônibus e trens, muitas vezes foi prejudicado por essa apologia ao automóvel. Mas os tempos são outros.
As cidades ficaram entupidas de automóveis. O trânsito na maioria delas é lento, perigoso e a poluição mata e faz definhar a saúde do planeta e das pessoas. O carro sempre foi o sonho de muitos jovens e um símbolo de status e de liberdade de locomoção. Transformou-se numa prisão urbana, nas intermináveis filas e engarrafamentos. Sim, os tempos são outros. Agora é preciso repensar a locomoção humana num cenário de megacidades, entupidas de gente, prédios e tudo o mais que essa civilização do consumismo produz.
E a velha bicicleta ressurge como uma alternativa nesse caldeirão turbulento do cotidiano.
Quando menino, eu consegui adquirir uma bicicleta usada. Reformei-a adaptando peças aqui e ali. Aquela velha bicicleta era tudo para mim. Minha cidade era pequena, tinha poucos automóveis naquela época e a maioria das pessoas dispunha de bicicletas. Não havia poluição sonora e problemas de trânsito. Nem sinalização viária tinha. Era uma tranquilidade de fazer inveja e as pessoas eram felizes. Sim, os tempos são outros.
O progresso imposto por essa mistificação consumista prometeu-nos liberdade de locomoção, vida feliz e tranquilidade. O que vemos são pessoas estressadas, impacientes e intolerantes, transformando as ruas em cenários de crimes. Na verdade a maioria das cidades são estruturas grotescas que agridem e perturbam as pessoas. A tal ponto que algumas delas se tornam monstrengos agressivos e que não hesitam em atacar os outros da sua espécie, como se fossem inimigos a serem eliminados. Cidades doentes, trânsito doente e barulhento é o caldo de cultura para reações violentas. Portanto, não é de estranhar que surjam perturbados como aquele que arremessou o seu carro sobre um grupo de ciclistas que fazia uma manifestação ordeira pelas ruas de Porto Alegre.
Antes de buscar no divã dos analistas as causas para essa tentativa de homicídio, vamos botar a nossa visão de progresso no divã da história. Talvez fazendo uma regressão a um passado não muito distante, vamos ver que os administradores públicos sempre deram valor exagerado ao automóvel. A obsessão quase doentia pela máquina entranhou-se no insconsciente coletivo dos citadinos. O automóvel é visto pela maioria das pessoas como identificação do ego, um bem que traz poder e prestígio. Em outras palavras: superior aos outros meios de locomoção como é o caso da bicicleta. É preciso uma longa terapia com muitas sessões dos vários setores da sociedade para restabelecer o equilíbrio nas grandes cidades.
Este é um desafio que se impõe nesses novos tempos.
Por Darci Bergmann
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