quarta-feira, 27 de março de 2013

Trincheiras, eiras e beiras

Será que assistiremos à Copa do Mundo apenas pela tela da televisão?
 

Será que as palavras conotadas por asneiras derivam de asnos? Será que a coisa pública é briga de galos em rinhas clandestinas? Será que as maiores obras do estado de Mato Grosso são as mais urgentes? Será que continuaremos petecas jogadas de mão em mão? Será que assistiremos a Copa do Mundo apenas pela tela da televisão?

As trincheiras mais do que comprovadamente atrasadas. As eiras em ruínas em várias calçadas além de um calçadão. As beiras desgastadas sem qualquer restauração. As trincheiras banhadas pelas chuvas de um Verão finito enquanto estação. As eiras mais do que em ruínas ameaçadas pela mesma instabilidade estrutural. As trincheiras contornadas por mais de um desvio mais do que temporal. As eiras retratadas além de uma fotografia digital. As beiras desmoronadas além da área central.

Cuiabá com a hora marcada para o apito mais do que inicial. Cuiabá com o minuto em cronometragem esgotada para a inauguração da Arena Pantanal. Cuiabá do verde oliva que não emplacou. Cuiabá do azul desbotado que foi transformado em poeira que o vento levou. Cuiabá do amarelo outrora dourado além de uma pepita que ninguém mais garimpou. Cuiabá da bica que secou. Cuiabá do tucano do bico trincado que nunca mais voou.

Mato Grosso quem te enganou? Mato Grosso quem te prometeu? Mato Grosso quem te desbravou? Mato Grosso quem te governou? Mato Grosso quem te fez palco de mais de uma trincheira antes de qualquer urbanidade em questão? Mato Grosso quem te rabiscou além da palma de uma mão? Mato Grosso quem te integrou além das eiras de um sertão? Mato Grosso quem te isola além das beiras com a mais sórdida enganação? Mato Grosso quem te cultiva além de um grão sem escoamento? Mato Grosso quem te representa além de um parlamento?

Trilhos e trilhos duplamente distanciados. Milhos aos pombos, diria a rainha Maria Antonieta antes de qualquer guilhotina genuinamente francesa. Terra dos bárbaros acrescentaria a corte outrora portuguesa. Povo desenvolvido? Ou governados sem desenvolvimento? Perguntaria mais de uma princesa inglesa.

Cara da pobreza? Ou carrapato da riqueza? Picada de mosquito? Ou picadeiro sem lona? Indagariam os mais nobres deputados e senadores do mesmo Congresso Nacional deveras constituído pela representação de um regime democrático sem qualquer realeza.

Triângulo ou pandeiro? Prato ou clarim? Flauta ou gaita? Surdo ou tamborim? Começo? Meio? E o fim? Ganzá ou sanfona? Viola ou violino? Sirene ou sino? Samba enredo, cururu ou siriri? Quantas carapuças vestem o mesmo saci? Enquanto isso, os asnos continuam sendo associados às mesmas asneiras.

Bandalheiras ou chuteiras? Muitos conjugam o verbo reclamar. Eles deveriam executar. Enquanto isso nós continuamos por esperar. Será que a bola vai rolar? Mudam as empreiteiras. Apitam as chaleiras. Repicam as trincheiras, as eiras e as beiras.

AIRTON REIS é poeta em Cuiabá.
airtonreis.poeta@gmail.com

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