A eleição à prefeitura de Cuiabá em outubro deste ano está parecendo águas profundas: calmas na superfície e tumultuadas abaixo por correntes invisíveis.
O prefeito Wilson Santos percebeu o movimento das águas e começou a armação de um grande circo de alianças partidárias. A mais emblemática, contudo, é com o PMDB, que já começa rachada. O vice-governador Silval Barbosa, que representa a corrente mais arejada do partido, considerou a aliança um equívoco. Sem grandes alardes, Silval Barbosa vem trabalhando para construir um novo PMDB menos fisiológico do que o atual. Se conseguirá ou não, não se sabe ainda, mas a se considerar que ele seguramente será o governador em 2010, terá com isso capacidade de aglutinação das correntes novas que silenciaram diante do partido atual.
Mas o PMDB com Wilson Santos significa, a rigor, ter o deputado federal Carlos Bezerra como aliado. Isso é a coisa mais complicada que pode existir na política de Mato Grosso. Bezerra tem a fama de sufocar os seus aliados em favor próprio ou de correntes do partido. Com isso ele perdeu junto com Júlio Campos em 1998 e junto com Antero Paes de Barros em 2002. Há quem afirme com garantias que a derrota de ambos se deveu à aliança com o PMDB e com Carlos Bezerra.
Outra corrente que está vindo é a do candidato do PR, quase definido o empresário Mauro Mendes. Ontem ele me disse ao telefone que ainda não definiu se será ou não candidato, mas admitiu que “está conversando, ouvindo e analisando o cenário para formatar uma opinião”. Disse, ainda, “não posso fingir que não é comigo, porque se critico as coisas que estão aí, devo estar disposto a interferir”. Sua visão crítica é a de que “a cidade está mal administrada e precisa de alguém capaz de administrá-la melhor”.
A entrada de Mauro Mendes significa o apoio pessoal do governador Blairo Maggi e um rompimento com o prefeito Wilson Santos. Graças à aliança com o PT, estabelecida no segundo turno da eleição presidencial de 2006, o PR deverá trabalhar uma candidatura de vice-prefeito junto ao PT. Em Cuiabá o partido tem nomes fortes em correntes mais radicais e nas mais moderadas. Uma candidatura com essa chapa deve alavancar votação perigosa contra o prefeito Wilson Santos.
Correndo à margem, o deputado federal Valtenir Pereira sabe que uma boa divisão dá-lhe boas chances de produzir um segundo turno, onde, embora talvez não chegue, mas oferece grande margem de negociação dos votos que obtiver no primeiro turno.
A síntese de tudo isso é que a eleição não será fácil para ninguém. Sem o candidato do PR, o prefeito Wilson Santos poderia dar a eleição como ganha. Sua preocupação anterior era o deputado estadual Walter Rabello, transformado numa grande dúvida sem a tela da televisão na qual se construiu politicamente. Agora, a eleição pertence às urnas, o maior de todos os juízes nas eleições.
ONOFRE RIBEIRO
onofreribeiro@terra.com.br
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